27.11.02


PENA QUE O MUNDO AINDA NÃO ACABOU

" andando pelas ruas / tentam esquecer / tudo o que os oprime / e os impede de viver / será que esquecer / seria a solução / para dissolver o ódio / que eles têm no coração? / vontade de gritar / sufocada no ar / medo causado pela repressão / tudo isso tenta impedir / os garotos do subúrbio / de existir / garotos do subúrbio / garotos do subúrbio / vocês / vocês / vocês não podem desistir / garotos do subúrbio / garotos do subúrbio / vocês / vocês / vocês não podem desistir / de viver / DE VIVER " (Garotos do Subúrbio, Inocentes)



Em um sábado, ou seja, no dia 27 de novembro de 1982, há exatos 20 anos, chegava ao conhecimento da rasa mídia nacional da época, o fato de que parte da juventude brasileira estava mais do que sintonizada e interessada em mudar alguma coisa no triste cenário do país verificado no início dos anos oitenta.

Há exatos vinte anos, realizou-se no Sesc Pompéia, em São Paulo, o festival O COMEÇO DO FIM DO MUNDO, a primeira grande manifestação em solo brasileiro do movimento cultural, político, social, artístico, enfim, jovem (na melhor acepção do termo), conhecido como movimento PUNK, surgido no Brasil anos antes, mais precisamente em 1977 com a banda paulista Restos de Nada.

Entretanto, mesmo tendo surgido em consonância com a explosão do movimento no seu país de origem, a Inglaterra, somente em 1982 o Brasil veria o movimento sair do pequeno circuito ABC/Periferia/Grandes Galerias para ganhar notoriedade, com o lançamento do primeiro disco punk brasileiro, Grito Suburbano (com as bandas Inocentes, Cólera e Olho Seco) e do livro O Que é Punk, do jornalista Antonio Bivar.

Impulsionado pelo crescente interesse ao movimento, o Sesc Pompéia decidiu abrir suas portas aos punks e naquele final de semana, recebeu cerca de quatro mil jovens interessados em ouvir o que tinham a dizer bandas como Inocentes, Cólera, Olho Seco, Lixomania, Decadência Social, Ratos de Porão, Ulster, entre outras.

Como não poderia deixar de ser, tendo em vista que ainda estava em vigor a tosca ditadura militar, a polícia sentou o pau e o festival teve os seus momentos esquecíveis de quebra e quebra e agressão generalizada.

Porém, não resta dúvida de que naquele final de semana parte da cultura musical jovem brasileira se fez e os garotos do subúrbio foram, de fato, ouvidos, mesmo por aqueles que não os queriam escutar. Ao menos uma vez.

"Nós estamos aqui para revolucionar a música popular brasileira, pintar de negro a asa branca, atrasar o trem das onze, pisar sobre as flores do Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer". (Clemente, vocal dos Inocentes)

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