8.5.03



ENTREVISTA 4 ACORDES – CECÍLIA GIANNETTI – VOCALISTA DA BANDA CASINO

Ah, coisa assim não acontece todo dia
Coisa assim não acontece todo dia...
Se isso der mesmo em samba , faz minha vida feliz, feliz, feliz

(“Coisa Assim”, Casino)



Em tempos difíceis como esses, em tempos de um início de século absolutamente perturbado, não há como não gritar de alegria ao esbarrar com uma banda tão sensacional e bela como a carioca CASINO. Formada originalmente sob o nome de 4track Valsa por Christiano Menezes (guitarra e teclado), Cecília Giannetti (vocal e guitarra), Maria de Fátima (guitarra), Júnior (bateria), Júlio (baixo) e Ricardo (percussão), a banda nasceu no Rio de Janeiro e mudou de nome para mostrar que o rock, a bossa, a sensibilidade, as palavras inteligentes e a vontade de fazer, quando misturados, formam um quadro lindo de se ver, lindo de se ouvir, delicadamente desenhado por ótimos músicos. E no meio desse lindo quadro sonoro, que mais se assemelha a um doce tapa na cara do ouvinte, impossível passar imune à voz de Cecília – uma das melhores vocalistas do Brasil, desde sempre – que encanta e conduz a viagem, do início ao fim. E, gentil, Cecília concordou em falar ao 4 Acordes por e-mail. E a entrevista segue abaixo. Aproveitem bem...

Ah, e não deixem de ouvir e procurar o som da banda, que já lançou o tape “Altas Horas” em 1999, o vinil 7” em 2000 (ambos ainda como 4track Valsa), e o belo EP Casino, em 2001, que você encontra aqui, na Midsummer Madness Records...

Pergunta: Casino. Uma viagem nostálgica ao romântico e antigo Rio de Janeiro ou apenas um striptease da alma com uma excepcional trilha sonora? Como tudo começou?

Não tem conceito pré-arranjado. Comecei a tocar com o Christiano (guitarrista/tecladista) quando eu tinha 12 e ele 10 anos de idade. O Júlio também tocava nessa época, mas acompanhava com violão. Pouco depois começou a aprender baixo. Mas foi só depois de eu passar por uma banda de punk rock sem eles dois (mas com a Fátima - guitarista - foi onde eu a conheci) e de tocar ainda alguns anos sem o Júlio, que a formação atual da banda se firmou.

P: Existe uma certa dose de tristeza, de bossa nova, de rock´n´roll, de suaves melodias e de letras maravilhosas no Casino. Como você descreveria a sonoridade da banda para quem nunca os ouviu?

Quando eu tava ouvindo muita coisa da época de bossa nova e até de um período pré-bossa, como alguns conjuntos vocais dos anos 50, etc., até dava pra dizer "ah, tá, releitura de bossa". Eu não ia poder negar porque, afinal, era o que eu tava ouvindo na época. Mas acho que não é por aí. Basta ouvir: estão lá três guitarras, teclado, percussão, baixo e bateria - se isso for bossa nostálgica romântica, eu sou abstêmia. Eu descreveria como música brasileira, pop-rock.

P: Quais as influências musicais e literárias, já que na banda o texto vale tanto quanto o som?

Não dá pra citar um ou dez como se fossem influências diretas da banda. Minhas leituras variam o tempo todo, conforme a necessidade, para estudar, e a vontade, assim como o som que eu e os outros quatro integrantes escutam. Agora eu tô lendo muito o que eu escrevo e escrevi há alguns meses, pra ir acertando uma coisa aqui e ali, mas é tudo texto, não são letras de música nem poesia. Tô lendo também a Casa do Incesto da Anais Nin e Trópico de Capricórnio, do Henry Miller. Mas não influenciam letra de música. As letras têm que ser escritas de uma maneira que eu acredite nelas, mesmo quando não falam de coisas reais pra mim, quando são histórias dos outros, e têm que caber num jeito de cantar que me agrade. Então a minha influência é a circunstância da música e a situação descrita pela letra, casada com a maneira que eu consigo cantar, que é sem treino de voz, etc.

P: O que mudou dos tempos do 4track Valsa para o Casino?

A mudança de nome não marca a mudança de som. Acontece o tempo todo uma mudança de som, até agora mesmo, quando a gente não tá fazendo show. Quando ensaiamos hoje, tocamos outra coisa que não tem muito a ver com o que tá gravado e foi lançado pelo MIdsummer Madness e a tendência é sempre incorporar tudo que me interessa, o que tem interessado aos outros... mesmo porque isso é inevitável. No resto da banda ninguém gosta muito de hip hop, mas tem sido o que mais escuto há um ano. Tenho ido ver batalhas de improvisação (na Lapa, começou uma festa fixa com isso, todo sábado, no Galpão da Lapa - de graça), só shows... é o que me interessa em termos de vocal agora. Eu sei que não vou fazer rap porque não tenho a capacidade e a perseverança pra treinar da maneira que vejo Marechal, Akira, e outros caras de rap aqui do Rio fazendo, passam oito horas estudando, o dia todo... não consigo isso, mas ao mesmo tempo é impossível não admitir essa influência, não deixar entrar ou não perceber que já entraram algumas quebradas no ritmo dos versos de uma música recente minha, por exemplo. Não é hip hop, mas eu sei o quanto do que tenho ouvido dos MCs está lá.

P: O reconhecimento que vocês vêm obtendo na imprensa musical é um estímulo para as bandas nacionais novas. Mas como você avalia este espaço? A internet ajuda ou você acha que o veículo acaba sendo apenas um reduto para poucos?

Não sei, acho que teve barulho quando lançamos a primeira demo, depois fizemos o clipe em São Paulo na MTV, tocando ao vivo, e falaram bastante também.. aí lançamos o EP, ele esgotou, vendeu tudo, graças a Deus. Se a imprensa gostou ou não, sei lá, os caras têm que falar de quem tá aí, né? Acho que na verdade não gostam não, chegam em casa e vão escutar outra coisa, um troço bem gravado - :)) - Internet ajuda um bocado. A gente não aproveitou tudo que podia do meio, apesar de eu trabalhar direto em web, porque não temos tempo de ficar fazendo site, essas coisas.

P: Quais bandas novas você anda escutando?

Wado, DJ Dolores, Tupac, De Leve, um MC de Niterói, Marechal, idem, de quem eu gravei toscamente umas músicas e improvisos numa fita junto com uma entrevista que fiz com ele; Dre, Jay-z, Instituto, Whiskeytown, Van Morrison... peguei a Fátima ouvindo Dido noutro dia e tentei convencer ela que o Eminem era gente boa pq lançou a mulher mas ela não quis me ouvir.

P: Planos para o futuro? Álbum, shows?

Show onde? Aqui no Rio, até o Kashanga fechou. Me divirto mais tocando em casa.

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