18.3.03



LEGIÃO URBANA (A MAIOR BANDA DE ROCK DO BRASIL)



Então, pelo que eu percebo, finalmente chegou o momento de tocarmos em um assunto delicado (o Picareta vai me odiar), em um assunto que desperta bastante interesse e opiniões controversas, muito em razão da paixão e/ou ódio que existe em torno dessa banda. Chegou o momento de confirmar que a LEGIÃO URBANA foi a MAIOR banda de rock que esse país já conheceu...fácil...e eu digo a razão.

Não vou ficar aqui contando a história da banda. Todo mundo que é um pouco ligado em música sabe que a Legião se formou em Brasília, entre o final dos anos setenta e começo dos oitenta, no rastro da banda conhecida como Aborto Elétrico e no rastro do movimento punk britânico, fazendo um som inicialmente agressivo e interessante, com letras MUITO, mas MUITO MESMO, acima da média (nem venham me falar que o cara escrevia coisas ruins. É, no mínimo, falta de compreensão da língua portuguesa afirmar que as letras de “Andrea Doria, Tempo Perdido, Clarisse, A Dança, entre outras, são “rasas”, sem “qualidade”).

O fato é que a Legião lançou três discos fundamentais para o rock brasileiro dos oitenta, quais sejam “Legião Urbana” de 85, “Dois”, de 86 e “As Quatro Estações”, de 89.

Nesses três discos existe o que de melhor foi feito em termos de rock brasileiro desde sempre. Quer objetividade? Ela está lá. Quer letras agressivas e bem escritas? Também estão lá. Quer melodias bonitas? Senso estético? Coerência criativa? Presença de palco? Atualidade com o contexto musical da época? Qualidade? Então, pode ir sem medo. Está tudo lá. Em apenas três álbuns. Em apenas uma única banda.

Vocês podem até dizer que Renato Russo se tornou um “messias”, um “chato”, um “guru”, um sujeito que passou a metade da década de noventa fazendo músicas insuportáveis de tão tristes e lentas e chatas. Eu discordo total disso e me torno obrigado a dizer que eu não tenho (aposto que metade de vocês também não) a menor idéia de como uma doença mortal pode afetar a cabeça de uma pessoa, de tal sorte que ela passe apenas a retratar dor, na sua forma mais brutal. E, ainda, não venham me dizer que o sujeito é responsável pelo fato de seus fãs o considerarem um ser divino, com o poder de cura no toque. Ninguém pode ser responsabilizado pela carência e pela necessidade de outras pessoas. Não mesmo. E se hoje existe uma porrada de mercenários que lançam discos engavetados e outras sobras de estúdio, bah eles pouco me importam e isso não é novidade alguma no mundo do rock.

Prefiro guardar a lembrança de uma banda muito boa e que foi sem dúvida a maior de todas no Brasil, muito porque conseguiu aliar qualidade com popularidade num país tão tosco como o nosso, no pior significado da palavra, sem perder o rumo. E aproveito para fazer minhas as palavras escritas por Renato Russo em uma carta endereçada ao extinto semanário musical britânico Melody Maker, por ocasião da morte de Sid Vicious (baixista dos Sex Pistols) e publicada no tal jornal no dia 31 de março de 1979:

"Acho que meu pai sabia, ele provavelmente viu na TV ou leu nos jornais, mas não me contou. Um amigo me disse e eu não acreditei. Tive que ligar para meu professor de violão e perguntar se ele tinha ouvido alguma coisa. Aconteceu numa sexta-feira, mas eu só soube da notícia no domingo à noite. Nada me atingiu do jeito que a morte do Sid me atingiu. Chorei a noite toda, e era como uma espécie de grito, doloroso, não só por Sid mas por tudo. Perdi completamente o controle de mim mesmo. Sabe, nada acontece aqui, nunca. E sempre recebo as notícias duas semanas atrasado. Não se lança nada de new wave (ou qualquer outra coisa boa que interesse) aqui, eu tenho que comprar importados no Rio. Tudo é disco, Travolta ou samba. Quando a coisa do punk começou, eu e meus amigos entramos de cabeça porque alguma coisa estava acontecendo. Nos envolvemos com a música como não acontecia desde os Beatles e os Stones. Era diferente. Sid, John e o Clash, eram todos heróis. Eles pensavam do jeito que a gente pensava; nem mesmo o Airplane (Jefferson Airplane, grupo psicodélico formado em São Francisco, no auge do flower power) tinha batido tão perto de mim. Dava um certo medo, era como dividir alguma coisa, não era apenas ser um fã burro. (...) Ele morreu por causa do que era. E como Brian (Jones, guitarrista dos Stones), Jim (Morrison, vocalista dos Doors) e Gram (Parsons, ex-The Byrds, pioneiro do country rock que morreu em 1973, de uma overdose de morfina e tequila, em Joshia Tree, Califórnia), as pessoas só vão entender depois de alguns anos. Alguns vão esquecer, outros não, alguns já esqueceram, mas quando um herói é de verdade (eu digo herói mesmo), ele sobrevive. Aposto que alguém vai rir lendo isso. Pode rir, você não endende. (...) Eu cresci milênios de 75 pra cá. Mas ainda tenho 18 anos. Vejo as coisas um pouco diferentes agora, e odeio...Mas vou passar por isso, e não vou perder (ganhar) como Sid Vicious fez. Eu vou fazer por ele o que ele fez por mim."

...pode rir, você não entende, não é mesmo?

Ouvindo Clash City Rockers, de The Clash

Nenhum comentário: