4.2.03


DESCONSTRUINDO O SAMBA – TODO CARNAVAL TEM SEU FIM

...toda bossa é nova e você não liga se é usada...
(Todo Carnaval tem seu Fim)

E eis que no final da década de noventa, surge uma banda no Rio de Janeiro que explodiu nas rádios com uma canção genuinamente pop rock que conquistou milhares de admiradores.

Entretanto, se por um lado a canção Anna Júlia fez com que o rock voltasse à mídia, por outro, Los Hermanos, a banda que perpetrou esse hit, sofreu por isso. E muito.

Primeiro sofreu uma pressão para continuar nesse caminho e produzir mais e mais canções simpáticas aos ouvidos gerais o que, convenhamos, é um fardo pesado demais para se carregar. Segundo sofreu pela evidente má vontade de parte da crítica especializada que começou a “quebrar” a banda, somente pelo fato de a mesma ter alcançado o sucesso comercial (costume tradicional, eu diria).

Nesse quadro a banda entra em estúdio e lança, em 2001, o seu segundo disco, chamado “O Bloco do Eu Sozinho”.

Surpreendentemente, a crítica foi praticamente unânime em aclamar o álbum como um clássico do rock nacional e um dos melhores álbuns desde sempre.

Surpresa? Espanto? Sim, confesso que senti uma certa surpresa com a excelente receptividade ao álbum e acabei o comprando.

De início me surpreendi, pois esperava algo muito próximo de “Anna Júlia” e “Primavera”, os juvenis hits do primeiro álbum. Não encontrei nada parecido com isso. Muito ao contrário, o que percebi foi uma maturidade surpreendente na banda e uma coerência conceitual no álbum, como raras vezes presenciei em discos de rock.

Mas isso faz do álbum uma obra prima, uma obra impecável, uma obra maravilhosa? Não. Ao menos para os meus ouvidos.

Há, na obra, carnaval, há samba de gafieira, há rock´n´roll, há trompetes, há cordas, há metais, há guitarras, há letras boas, enfim, há qualidades inegáveis no álbum, mas daí a elegê-lo como um dos mais perfeitos já produzidos no país, acho um certo exagero, ou uma espécie de mea culpa da crítica especializada por ter metralhado a banda no auge do sucesso “annajuliano”.

O que ouvi no álbum não foi nenhuma novidade musical inspiradíssima e carregada de frescor, como li por aí. O que ouvi foram boas tramas de guitarra, boas costuras de baixo e bateria e boas misturas de metais, cordas e afins.

Mas fiquei com certo ranço de deja vu ao ouvir o disco. Essa mistura me parece uma repetida obsessão fluminense em misturar rock com samba e com rock de novo. E eu não me interessei muito por tudo isso, porque não sou dado a essas experimentações e desconfio de quem quer nacionalizar uma música já internacionalizada.

E, apenas justificando o deja vu, eu me lembrei de já ter ouvido antes esse mesma mistura em Picassos Falsos, em Black Future (aqui, em 1988, com cheiro de novidade, sim senhores), também devidamente inspirados em Don Salvador, em Black Rio, em Moreira da Silva, e em tantos outros.

É um bom álbum? Sem dúvida. É maravilhoso? Na minha modesta opinião, nem tanto. Vale a pena ouvi-lo? Repetidas vezes, para formar sua própria opinião e tentar entendê-lo, o que, talvez, eu ainda não tenha conseguido.

Enfim, como diriam os próprios Hermanos “...toda bossa é nova e você não liga se é usada...”.

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