2.9.03
BUENA VISTA SOCIAL CLUB (O VERDADEIRO CLUBE DO MICKEY)
"Com a minha música vou a qualquer parte, porque não sou um político, sou um artista que deseja mostrar a cultura musical de meu país e nada além" (Ibrahim Ferrer)
A frase acima foi proferida pelo músico cubano Ibrahim Ferrer, em razão de o mesmo ter tido o seu visto de entrada negado pelos EUA. O músico iria participar da premiação Grammy Latino, porém, não vai mais. E, em razão disso, soltou o verbo. E sabe o que eu acho disso tudo e, em especial do tal músico? BABACA...vá para o inferno.
O negócio é o seguinte. Há dois ou três anos, estreou um filme chamado Buena Vista Social Club, dirigido por um tal de Wim Wenders (Paris, Texas é tenebroso de ruim, por favor, nem falem o contrário) que, em suma, teve a intenção de mostrar quão bela é a música cubana para o resto do mundo.
Até aí, nada demais, já que a música cubana é, de fato, uma das músicas mais sofisticadas e lindas do mundo. Só que, como de boas intenções o inferno está sempre cheio, o resultado do filme foi um desastre (para mim). Um espetáculo para "pessoas espaço Unibanco" deslumbradas, que adoram cinema indiano, muito embora durmam durante a sessão.
A questão é que a película citada é prepotente, arrogante, equivocada, enfim, objeto raso de propaganda política (e colonizadora e preconceituosa). O fato é que chega a ser intolerante e intragável a forma como Wenders e Ry Cooder (risível músico norte-americano, co-autor do projeto) mostram os cubanos no filme. Eles são tratados como seres de outro planeta. Seres sensíveis, seres talentosos, seres fabulosos que, APENAS em razão do isolamento de Cuba, não conheceram o sucesso internacional. Chega a ser patética a cena em que um dos músicos (Compay Segundo, se não me engano), fica maravilhado diante do Carnegie Hall e da "liberdade" norte-americana. Oras, por favor, apesar da excelência de tais músicos, é evidente que eles "sumiram" do cenário musical cubano por outras razões que não a "crueldade" do regime socialista. Caralho, hoje soa ridículo, mas é certo que por muitas décadas, eles representaram o pior de Cuba pré-Castro, uma Cuba balneário, uma Cuba cassino para ricaços em férias.
Entretanto, o filme esquece tudo isso. Após duas horas no cinema, você vai para casa com pena de um bando de velhinhos que, coitados, tiveram o azar de estar no lugar errado, na hora errada.
Ridículo. Colonizador e ridículo. Cuba não é melhor e nem pior do que qualquer outro país do mundo. Cuba é apenas um país com sua própria cultura, sua própria formação, enfim, sua própria maneira de se manifestar sobre os mais diversos assuntos.
Espero que um dia ainda façam um documentário decente sobre música cubana. Isento, sem qualquer motivação política, por mais difícil que isso ser, em razão da singularidade da pequena ilha.
Ouvindo a música tema do Clube do Mickey, mais apropriada...
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